Carta de uma Portuguesa ao Senhor Primeiro Ministro
Exmo. Senhor Primeiro Ministro,
Nunca tomei a iniciativa de lhe escrever. No entanto, as notícias dos últimos dias têm-me feito reflectir um pouco.
Acredito que esta carta não chegue às suas mãos, mas acredite que vai circular pelo País inteiro, de modo a, mais uma vez, os cidadãos reflectirem sobre a vergonha que é o nosso País, ou melhor, a vergonha que é os nossos governantes.
Fiquei indignada com várias coisas, mas comecemos pelo princípio. Pelos vistos, vou ficar sem o Abono de Família da minha filha que lhe era atribuído todos os meses. A “barbaridade” de 11.26€.. que em tempos de dificuldade ajuda a matar a forma (note-se que estou a ser irónica). Pensará que para receber este valor recebo um grande ordenado. Pois está enganado, entre mim e o meu marido não chegamos aos 2.000€ mensais. O que hoje em dia são ordenados miseráveis, e tendo em conta que tanto eu como ele somos licenciados.
Isto porque tenho um património do banco valorizado em mais de 100.000€.
Este património deve-se à especulação imobiliária exagerada que se tem vindo a exercer nos últimos anos. O mesmo património que o banco me deu a possibilidade de pagar em 45 anos. Ou seja, hei-de morrer antes de poder dizer que o património é realmente meu, e que custa imenso pagar todos os meses. Mas, vá lá, ainda me sobra dinheiro para a comida, não posso é fazer gastos “desnecessários” durante o mês com o risco de poder ficar sem dinheiro no tempo que resta até receber o novo ordenado. Quando falo em gastos desnecessários falo em comprar roupa para a minha filha, ir a médicos particulares, pois a saúde na zona interior está uma autêntica miséria: Hospitais a quilómetros de distância, maternidades fechadas, não há consultas de especialidade. Enfim!
Mas, estou a afastar-me do assunto principal.
Diga-me, Sr. Primeiro Ministro, como pensa dizimar a natalidade em Portugal, um “País de velhos” como lhe chamam alguns?! Neste momento, estou grávida do meu segundo filho. Também esta a pretender retirar-me a isenção no hospital e no Centro de Saúde e o Abono pré-natal. Tudo por causa do meu património que não é meu.
Agora vejamos, para além disto também vou receber menos ordenado, pois vão-me retirar 1%, nos subsídios igualmente e dobre o IVA.
Mas, Deus seja louvado, a partir de Setembro vão voltar a distribuir Magalhães aos meninos da escola. Vão ser gastos milhares de euros em computadores que nada servem. As nossas crianças não ficam mais inteligentes, não aprendem nada de novo, e melhor… os computadores não são utilizados na sala de aula. Para que servem então?!
Estou eu, como milhares de contribuintes, a pagar um brinquedo.
Estamos todos a pagar uma crise que não é criada por nós. Tudo se deve à má gestão dos governantes presentes e passados. Porque têm de ser sempre os mesmos a pagar as dividas? Eu já tenho as minhas, as do meu banco, daquele património que não é meu. Porque tenho eu de pagar a divida dos outros?
Não falando em postos de trabalho precários, ordenados miseráveis, um numero infindável de desempregados, idosos com reformas vergonhosas.
Todas estas pessoas, Sr Primeiro Ministro, são lesadas com as suas medidas de baixar o défice, situação provocada por vós.
O pagamento das SCUT é uma situação que não lesa directamente, nem tão pouco a subida nos transportes públicos, pois como lhe disse antes, vivo no interior. Mas estou solidária com as pessoas que, mais uma vez, têm de reduzir o seu nível de vida, muitas das vezes já sendo ele bastante baixo, para pagar uma factura que não é deles.
Não vou falar dos ordenados de governantes, nem das regalias, nem das reformas de alguns, nem das reformas acumuladas de outros, dos automóveis ao serviço oficial, nem dos absurdos do TGV e terceira ponte do Tejo… não vou falar agora disso. Pois há outra questão que me indigna profundamente.
Não querendo ser racista, mas correndo o risco de o parecer, a minha questão é esta, Sr Primeiro Ministro: em todas as medidas de contenção, diga-me, por favor, como fica a situação da etnia cigana?
Porque em nada contribuem para a economia ou desenvolvimento do País, não trabalham, não vão à tropa, têm casas “à borla” (e ainda se queixam de não ser ao gosto deles), têm todas as regalias para os seus filhos (e quanto mais haja, mais dinheiro levam para casa), não fazem descontos como muitos idosos que trabalharam uma vida inteira para agora terem uma reforma miserável, vendem nas feiras livremente e ainda recebem o rendimento mínimo de inserção…
Diga-me, Sr Primeiro Ministro, em que são lesados estes cidadãos do mundo (como eles próprios se intitulam)? Em que base contribuem eles para a descida do défice?
Recebendo estes senhores os subsídios em Portugal não são eles, como cidadãos portugueses, também obrigados a pagar esta factura que nos está a custar a todos, ou melhor dizendo, a alguns?
E ainda diz o Sr Primeiro Ministro, ou alguém do seu gabinete, que estas medidas são para fomentar o equilíbrio e a justiça social. Só se for no seu mundo de fantasia!
Sem outro assunto de momento, sou
Uma cidadã Portuguesa!
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