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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Greve geral

Quem não gosta de Sócrates acolheu o anúncio da greve geral para o próximo dia 24 de Novembro com um sorriso de vingança nos lábios. Porque – diz-se – é preciso que ele oiça o rugido da fúria popular, é imperativo que ele entenda até que ponto as suas medidas de austeridade são detestadas, é urgente mostrar-lhe um enorme cartão amarelo. Mas as coisas não são tão simples como parecem. Da mitologia obreirista do século XIX, a greve é o único mito sobrevivente – mas sobrevive como algo deslocado no tempo, esvaziado do seu original conteúdo proletário e anarquista, limitado hoje ao papel de liturgia de uma corporação ideológica, reduzido a mera mnemónica política. A greve destinou-se, inicialmente, a punir patrões, usando para isso um método expedito: interromper a produção, causando-lhe prejuízos na facturação e obrigando-o, com isso, a ceder debaixo de pressão. A questão mudou, contudo, de figura quando se descobriu que o grande patrão, e o pior de todos, é o próprio Estado, de que todos nós somos, por assim dizer, "accionistas". Aplicada ao Estado (e, neste caso concreto, ao Governo), a greve torna-se uma punição dos cidadãos em geral e dos contribuintes em particular: os únicos que verdadeiramente sofrem os efeitos e pagam a factura. Sócrates e os seus ministros não vão perder um cêntimo com a greve de Novembro. Tirando o leve embaraço de uma notícia de abertura nos telejornais, nada sofrerão. À noite, quando tudo estiver acabado e os manifestantes enrolarem as bandeiras, eles continuarão a ir dos seus gabinetes à prova de som para as suas casas (onde a crise não entra), transportados por motoristas gentis em automóveis de luxo. De tudo ficará um eco vago, uma rouquidão inútil, um dia perdido num país à beira da bancarrota. Grite-se, está bem: há muito que Portugal precisa de ouvir um enorme ronco de revolta. Mas é pena que não se tivesse gritado antes, nas urnas, quando ainda era tempo.
 
Por: Fra Diavolo
Jornal O Diabo

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